
No final do século I e início do século II, estava em desenvolvimento o último grande sistema da filosofia grega, o “neoplatonismo”[1], e, na cidade de Roma, estava em difusão a filosofia das escolas morais helênicas (Estoicismo; O Pensamento: Gnosiologia e Metafísica; A Moral e a Política), também, espalhavam-se rapidamente pelo Ocidente as doutrinas de uma nova religião: o cristianismo. Comparando o cristianismo que ora surgia, com o pensamento Greco-romano, podemos dizer que a nova religião trouxe muitas novidades, que terão reflexos na filosofia e na cultura ocidental.
1) Inspiração divina da Bíblia: O homem passa a ter fé no texto bíblico, pois apesar de ser escritos por homens, não é fruto da razão humana, mas sim da revelação de Deus;
2) Monoteísmo: A crença na multiplicidade de deuses, própria das mitologias existentes, começa a ser substituída pela crença de um Deus único e pessoal;
3) Criacionismo: Mundo e homem são frutos da criação “ex-nihilo”. Deus, fonte da vontade e bondade absolutas, criou livremente o homem e o mundo, que passa a contradizer o pensamento corrente:
a) Mitologias: Mundo e homem são frutos da organização do caos, transformado em cosmos pela ação da divindade ou de seus prepostos;
b) Neoplatonismo: Mundo e homem decorrem da emanação do “Uno”;
4) Pecado original: A soberba, move o homem a desobedecer a Deus, cometendo, desta forma o pecado original, causa de todos os males mundanos e sofrimentos humanos.
5) Amor e graça: Platão desenvolveu a teoria do Éros, como desejo do homem atingir a perfeição ou a tensão mediadora entre o sensível e o supra-sensível. O Éros grego é ausência-e-presença, é a força de conquista e ascensão orientada pela idéia da beleza. O conceito cristão de amor (ágape) traz uma inovação: este se dá não tanto na subida da alma humana ao plano celeste, mas é, sobretudo, a descida de Deus em direção ao homem. Deus assume a condição humana para resgatá-lo do pecado e, além disso, envia graças como dons gratuitos ao homem.
6) Nova concepção de homem: sofistas e estóicos defendiam a idéia de cosmopolitismo[2]. Para os cristãos, a condição humana é de real igualdade perante a Deus. O homem foi criado à sua imagem e semelhança.
Referência:
Hryniewicz, S., Para Filosofar Hoje, Livraria e Editora Santa Helena Ltda, Rio de Janeiro, RJ, 5ª Edição, 2002.
[1] O neoplatonismo: Corrente filosófica, no início da era cristã, fundada por Amônio Sacas e divulgada por Plotino e seus seguidores Porfírio, Iâmblico e Ploco. O neoplatonismo se caracteriza por uma interpretação espiritualista e mística das doutrinas de Platão, com influência do estoicismo e do pitagorismo. Segundo o neoplatonismo, o real é constituido por três hispóstases – o Uno, a Inteligência (Nous) e a Alma, sendo que as duas últimas procederiam da primeira por emanação. É considerado um sistema um tanto obscuro, embora tenha tido grande influência no início da formação do pensamento crsitão, sobretudo devido a seu espiritualismo.
[2] Idéia de igualdade entre os homens.
Por Cardeal Ratzinger/Bento XVl
2. Metamorfose do Deus dos filósofos
Certamente não se pode deixar de considerar a outra face do processo. Decidindo-se exclusivamente pelo Deus dos filósofos e, conseqüentemente, declarando-o como o Deus ao qual se podia rezar e que fala aos homens, a fé cristã conferiu a este Deus dos filósofos um significado completamente novo, arrancando-o da esfera puramente acadêmica e alterando-o profundamente. Este Deus que primeiro se apresenta como um neutro, como o conceito supremo, arrematador, este Deus compreendido como o puro ser ou a idéia pura, a girar eternamente fechado em si mesmo, jamais se inclinando para o homem e para o seu pequeno mundo, este Deus cuja pura eternidade e imutabilidade exclui qualquer relação para com o mutável e o em-devir apresenta-se agora para a fé como o Homem-Deus, que não é somente idéia da idéia, eterna matemática do universo, mas ágape, dinamismo do amor criativo. Neste sentido encontra-se na fé cristã o que Pascal experimentou na noite em que escreveu em uma cédula, que costurou no forro da roupa, esta frase: “Fogo, ‘Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó’ não ‘Deus dos filósofos e sábios” . Em oposição a um Deus totalmente remergulhado no mundo da matemática, Pascal viveu a experiência da sarça ardente, compreendendo que o Deus, que é a eterna geometria do cosmos, só pode sê-lo por ser amor criador, por ser sarça ardente de onde soa um nome, com que ele penetra no mundo do homem. Portanto, neste sentido existe a experiência de que o Deus dos filósofos é todo diferente da imagem que eles dele fizeram, sem cessar de ser o que eles constataram. Este Deus só se torna realmente conhecido, quando compreendemos que, sendo a verdade por excelência e o fundamento de todo o ser, é, inseparavelmente, o Deus da fé e o Deus dos homens.
Introdução ao Cristianismo, pg 103
Tiago Maritins,
Salve Maria. Obrigado pelo seu comentário. Rico de esclarecimentos. Continue assim, sempre que possível, acrescentando estas coisas boas, que são de Deus.